Ditabranda e golpe suave

Por Renato Martins
Há poucos anos o Jornal Folha de São Paulo lançou a tese da ditabranda para qualificar o regime militar instaurado pelo golpe de 64 no Brasil.
O periódico sugeria que em contraste com o que aconteceu no Uruguai, Chile e Argentina, os militares brasileiros foram comedidos, o que equivalia a dizer que os verdadeiros culpados pela tortura e desaparecimentos foram as vitimas das violações dos direitos humanos.
Agora a mídia tenda vender a ideia de que a derrubada do presidente Fernando Lugo – por contar com questionável aprovação parlamentar – constitui um golpe suave. Ditabranda e golpe suave são ideias que se revestem do mesmo desprezo pela democracia, sobretudo quando ela se torna um instrumento de distribuição de renda e poder em benefício da maioria.
A grande imprensa se esquece de que todo golpe de estado representa uma violação da vontade popular, e tanto faz se para isso são utilizados tanques ou ritos sumários de instituições criadas para defender a própria democracia.
De imediato o governo de Federico Franco obteve o apoio dos Estados Unidos, Canadá e de alguns países europeus. Antigos promotores da ALCA, os EUA são adversários históricos da integração latino-americana, da qual o MERCOSUL representa a experiência mais consolidada e duradoura.
Apoiar o golpe no coração do MERCOSUL representa uma evidente estratégia de enfraquecimento da integração regional e dos governos populares e progressistas que a sustentam. Eles não contavam, porém, que a saída do Paraguai é provisória, e a entrada da Venezuela é permanente.
Com a chegada do novo sócio o MERCOSUL sai fortalecido por 30 milhões de habitantes, um PIB de 400 bilhões de dólares e as maiores reservas de petróleo do mundo, numa região em pleno desenvolvimento econômico e carente de energia.
O Paraguai, mesmo suspenso do bloco, permanecerá se beneficiando dos recursos do Fundo de Convergência Estrutural do MERCOSUL – FOCEM – destinado a promover a integração da infraestrutura e mitigar as assimetrias econômicas na região.
Com o isolamento do governo de Federico Franco e o ingresso da Venezuela, aprovados na 43ª. Cúpula do MERCOSUL, pode-se dizer que o tiro saiu pela culatra. Em breve o povo paraguaio haverá de recuperar, com o apoio dos movimentos sociais e a solidariedade dos países vizinhos, a democracia arduamente conquistada.
Foz do Iguaçu, 29 de junho de 2012.
*Renato Martins é Professor de Sociologia e Ciência Politica Universidade Federal da Integração Latino-Americana – UNILA
Fonte: Alainet