Foro de São Paulo quer acelerar integração frente à crise

(21/11/11)
O Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo – instância permanente desta rede de Partidos de esquerda da América Latina e Caribe – reuniu-se na última sexta-feira (18) e sábado (19) na Cidade do México. Antes, na quinta-feira (17), ocorreu o primeiro Encontro latino-americano de governos locais de esquerda.
Na reunião do Foro de São Paulo, o PCdoB esteve representado por Ronaldo Carmona, da Comissão Internacional do Partido. No Encontro de governos de esquerda, o Partido participou de duas mesas: com a prefeita Tânia Portugal, de São Sebastião do Passe —cidade da região metropolitana de Salvador, governada já em segundo mandato pelo PCdoB —, que expôs a experiência de governo em sua cidade e com Ronaldo Carmona, que faz uma apresentação sobre a situação internacional e mudanças no contexto geopolítico latino-americano.
Ambas as atividades ocorreram em clima de congraçamento diante da decisão da esquerda mexicana, anunciada na quarta-feira (16), de lançar um candidato único às eleições presidenciais de 1º de julho de 2012: Andrés Manuel Lopez Obrador, derrotado por menos de 1% dos votos em escandalosa fraude eleitoral em 2006. Lopez Obrador foi indicado candidato por acordo, por sua dianteira em pesquisas eleitorais em relação ao outro nome que postulava a indicação: Ricardo Ebrard, prefeito da Cidade do México, também do Partido da Revolução Democrática (PRD), que declarou apoio ao candidato único da esquerda mexicana.
Dissipado o risco de a esquerda marchar com dois candidatos — caminho certo para a derrota, afirma a esquerda mexicana —, foi lançado o Movimento Progressista, coalizão que reúne, além do PRD, o Partido do Trabalho (PT) e o Movimento Cidadãos (ex-Convergência).
Reunião do Foro de São Paulo

A reunião do Grupo de Trabalho contou com a presença dos principais partidos de esquerda da América Latina. Nesse contexto, foi aprofundado o debate político sobre a evolução recente da situação internacional e seus impactos na América Latina.
De forma unitária, as forças de esquerda identificaram os sintomas de agravamento da situação internacional, sobretudo com a intensificação da crise capitalista nos países centrais. Muitos Partidos se manifestaram pela importância de acelerar o processo de integração regional como resposta à crise, e saudaram a iminente criação da Comunidade de Estados latino-americanos e Caribenhos, em duas semanas, na Venezuela. Também ressaltaram a importância das recentes medidas anunciadas no âmbito da Unasul (União de Nações Sul-americanas).
Representando o PCdoB, Ronaldo Carmona fez uma exposição sobre o quadro internacional e brasileiro. Quanto à situação internacional, ele ressaltou tendências a uma instabilidade prolongada no mundo no próximo período, com intensificação de guerras de agressões e de rapina, em especial pelo domínio de recursos naturais e energéticos do planeta.
O comunista também apontou a gravidade do recrudescimento da crise capitalista nos países centrais, ressaltando os recentes “golpes de mercado” na Itália e na Grécia com a imposição de governos ainda mais claramente identificados com os banqueiros. O brasileiro observou as conseqüências econômicas e geopolíticas da crise, representadas pela intensificação da tendência a um declínio relativo no centro do sistema e de aceleração na transição na ordem internacional, com a emergência de novos polos, em especial dos países BRICS.
Referindo-se à América Latina, Carmona lembrou da reação à anterior grande crise do capitalismo, a de 1929, quando, no caso brasileiro — e em alguma medida, também no México e na Argentina —, Getúlio Vargas, à frente da revolução de 1930, aproveitou o momento de inflexão no sistema internacional para pôr em marcha um amplo programa de transformações estruturais da econômica brasileira, que pela industrialização, preparou a base da ascensão atual do Brasil, represada, entretanto, pelas duas décadas de retrocesso neoliberal.
Por fim, o representante do PCdoB apresentou traços gerais da situação brasileira, apontando as possibilidades, identificadas na declaração da última reunião do Comitê Central do Partido, de se forjar um novo pacto político que substitua o esquema rentista-monetarista e destrave as amplas potencialidades brasileiras.
Ele também agradeceu a solidariedade recebida pelo PCdoB diante da campanha midiática contra o Partido deflagrada a partir das calunias contra o ex-ministro Orlando Silva, e informou do desfecho, com a recente posse do ministro do esporte Aldo Rebelo, assim como das declarações da presidente Dilma por ocasião da transmissão de cargo.
As eleições recentes e futuras na América Latina
A reunião dos Partidos de esquerda da América Latina recebeu informação detalhada dos processos eleitorais recentes ocorridos na região e dos vindouros.
A Delegação argentina informou o processo que levou a contundente reeleição da presidente Cristina Kirchner, em outubro, apontando como razão central para essa vitória o soerguimento da nação, primeiro no governo de Nestor e depois no de Cristina, após a tragédia neoliberal menemista.
A Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) também deu pormenorizada informação política sobre a vitória avassaladora do presidente Daniel Ortega, reeleito em 06 de novembro com mais de 60% dos votos. A FSLN também obteve maioria qualificada no parlamento nicaragüense, que permitirá nos próximos anos avanços nas mudanças neste país centro-americano.
A reunião do GT também foi informada das recentes eleições municipais na Colômbia, pela senadora Gloria Inês Ramirez, do Pólo Democrático Alternativo e do Partido Comunista Colombiano e sobre os eventos que levaram ao assassinato do líder das FARC, Afonso Cano. Os partidos do Foro de São Paulo, dentre eles o PCdoB, se manifestaram pela permanência da centralidade da bandeira da paz na Colômbia, e por uma saída política e negociada para o conflito armado.
A reunião também recebeu informações sobre as eleições locais e parlamentares em El Salvador (março de 2012), e das eleições presidenciais no México (julho de 2012) e na Venezuela, em 07 de outubro do próximo ano.
Os deputados Rodrigo Cabezas e Saul Ortega, do PSUV (Partido Socialista Unidos da Venezuela) informaram um conjunto de iniciativas importantes do governo do presidente Hugo Chávez, dentre elas, um amplo programa habitacional – inspirado no brasileiro “Minha casa, minha vida” e contando com assistência técnica brasileira —; amplos investimentos na geração de energia elétrica; e um programa de substituição de importações de alimentos, com a chamada missão AgroVenezuela, também com apoio brasileiro — neste caso, da Embrapa.
Os dirigentes do PSUV informaram o curso da constituição do Grande Pólo Patriótico, ampla aliança política e social na qual reúne, ademais do Partido de Chávez e do Partido Comunista da Venezuela, mais de 30 mil organizações sociais dos mais diversos setores e expressões.
18º Encontro do Foro de São Paulo

A reunião do Grupo de Trabalho convocou, para 04 a 06 de julho de 2012, o 18º Encontro do Foro de São Paulo. A grande reunião anual da esquerda latino-americana e caribenha — cuja última edição ocorreu em maio passado, em Manágua, na Nicarágua — será realizada pela primeira vez em Caracas e coincidirá com o aniversário da independência da Venezuela, em 05 de julho, e com o grande ato que terá lugar na capital venezuelana.
O Encontro de Caracas ocorrerá num momento especial, identificaram os Partidos de esquerda latino-americanos, diante do agravamento da crise e de seus efeitos na América Latina.
A reunião do GT do Foro de São Paulo foi concluída com a aprovação de um conjunto de moções de congratulações ou de solidariedade em relação aos seguintes temas: à esquerda mexicana e a Andrés Manuel Lopez Obrador, pelo inicio da campanha rumo à vitoria em 1 de julho próximo, e em relação a Cuba, Venezuela, Palestina, Nicarágua e El Salvador.
Encontro latino-americano de governos locais de esquerda
Um dia antes da reunião do GT do Foro de São Paulo, ocorreu na capital mexicana, sob auspícios da Associação de Autoridades Locais do México, do Partido da Revolução Democrática (PRD) e do Partido Trabalho (PT), o primeiro Encontro latino-americano de governos locais de esquerda.
O evento — realizado a partir de chamado de reunião de autoridades locais realizada em maio último, em Manágua, por ocasião do 17º Encontro do Foro de São Paulo —, busca rearticular uma rede de prefeitos e prefeitas da esquerda latino-americana.
O PCdoB foi representado por uma de suas importantes experiências, já em segundo mandato, na cidade de São Sebastião do Passé, na região metropolitana de Salvador.
A prefeita Tânia Portugal, que também é do Comitê Estadual do Partido na Bahia, apresentou no Encontro um material e um vídeo em espanhol, que geraram bastante interesse entre os participantes do Encontro. Em sua exposição, a prefeita Tânia destacou a prioridade da administração para o desenvolvimento econômico e social, em especial da prioridade para o ser humano como característica principal. Ela também detalhou um conjunto de iniciativas que marcam sua administração, sobretudo nas áreas de educação, saúde e participação popular.
Ainda no Encontro latino-americano de governos locais de esquerda, Ronaldo Carmona, da Comissão Internacional do PCdoB, participou de importante mesa fazendo uma exposição sobre a situação internacional e mudanças no contexto geopolítico latino-americano.
O Encontro latino-americano de governos locais de esquerda foi concluído com a Declaração da Cidade do México, que aponta para a estruturação de uma rede de prefeitos e prefeitas de esquerda da América Latina e Caribe, a partir do Foro de São Paulo. A próxima reunião, para dar passos na estruturação desta rede, já está marcada, e ocorre no final deste mês na cidade de Montevidéu, Uruguai, na reunião das Mercocidades, auspiciada pela prefeita comunista daquela capital, Ana Oliveira.
Da redação do Vermelho
com informações da Cidade do México.