Destino comum

Por Darc Costa
A entrada da Venezuela como membro pleno do Mercosul tem provocado diversas opiniões negativas e pessimistas quanto ao futuro do bloco.
Dentre estas, emerge a argumentação de que está em curso uma modificação de estrutura do bloco, que em si deveria ser estritamente comercial.
A defesa desta posição encontra-se defasada. Vem de uma época em que se acreditava na chamada “Terceira via”, formada por Estados Unidos e Inglaterra e que pautou a Alca. Nesta visão, os países da periferia convergiriam ao desenvolvimento.
Entretanto, isto não encontrou respaldo nos fatos, sejam estes comerciais ou políticos, ficando restrita, assim, a meia dúzia de adjetivos genéricos.
O fato é que, desde meados dos anos 2000, a integração na região tomou outro rumo. Desde a ruptura com o padrão de inserção da “Terceira via”, a América do Sul viu seu processo soberano de integração regional ganhar corpo. Em 2004, houve o avanço da complementação econômica entre o Mercosul e a Comunidade Andina, que culminou na Comunidade Sul Americana de Nações. Em 2007, foi criada da União das Nações Sul-americanas, e, em 2011, a Comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos.
A incorporação da Venezuela ao Mercosul é mais um importante passo na construção do desenvolvimento sul-americano livre de entraves e restrições externas. Alguns analistas apresentam argumentos para justificar a medida como meramente política. Segundo estes, a entrada da Venezuela não exerce grandes efeitos no bloco pelo baixo intercâmbio comercial. Entretanto, só com o Brasil a Venezuela apresentou elevação da corrente de comércio de 30% na comparação do acumulado de janeiro a maio de 2012 contra o mesmo período de 2011. Com a Argentina, a corrente de comércio tem crescido a uma média de 40% ao ano – 80% o crescimento de 2009 a 2011.
O que tem ficado de fora do debate acerca da entrada da Venezuela são as possibilidades que se abrem, com a sua incorporação ao Mercosul, para a integração sul-americana.
Com a adesão, o bloco passa a representar mais de 80% do PIB deste continente (US$ 3,2 trilhões) e 70% de sua população (272 milhões), constituindo-se como um grande produtor de energia e alimentos.
As dimensões desta posição, como também as de um mercado interno forte, abrem uma perspectiva nova ao continente: a condição de acelerar o processo de desenvolvimento econômico com justiça social.
A história dos países da região tem demonstrado que cabe a nós um destino comum, seja para o desenvolvimento ou para melhor inserção de nosso continente no mundo.
A entrada da Venezuela vem para, mais do que consolidar o retorno deste país ao Sul, inserir o Norte do Brasil de fato no Mercosul.
A história não acabou deste lado do mundo, assim com os processos de integração e desenvolvimento na América do Sul avançam e se fortalecem.
Fonte: OGlobo