Assassinado um dos símbolos da resistência hondurenha

Mahadeo Roopchano Sadloo Sodloo, o Emo, foi morto em frente à sua borracharia em Tegucigalpa; FNRP responsabiliza o Estado
Por Sílvia Alvarez,  de Tegucigalpa (08/09/11)
Ao ver o avião de Manuel Zelaya decolar rumo ao exílio, Mahadeo Roopchano Sadloo Sodloo, conhecido por todos como Emo, fez uma promessa: não cortaria a barba até que o presidente deposto por um golpe de Estado civil-militar voltasse a Honduras. E assim, durante os 16 meses em que Zelaya esteve na República Dominicana, a população em resistência acompanhava o crescimento da barba de Emo quando o encontrava em marchas, assembleias, reuniões – o que acontecia praticamente todos os dias. Quase onipresente, Emo por vezes surgia “do nada” nos palcos, balançando a bandeira da Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP), dançando, cantando e gritando o clássico grito de ordem “o povo unido jamais será vencido”.
Animador nato, o senhor de 55 anos – cuja nacionalidade até sua morte era incerta – virou símbolo e personagem famoso da resistência popular desde o golpe de Estado. Também tornou-se “figurinha carimbada” da mídia, que promoveu verdadeiras campanhas contra o militante, a quem definiam como cidadão indiano e terrorista. O governo de Porfírio Lobo Sosa declarou várias vezes que ia deportar estrangeiros que incitavam à desordem, numa clara ameaça a Emo. Só agora se soube que ele era naturalizado hondurenho.
Na tarde desta quarta-feira, às 14h, um homem foi até sua borracharia, em Tegucigalpa, e disparou contra ele 5 tiros que o levaram à morte. Emo acabava de voltar de um protesto contra a prisão do ex-ministro de Zelaya, Enrique Flores Lanza, considerada uma violação do acordo de Cartagena, firmado com o atual governo e que permitiu o regresso de Zelaya e de todos os exilados. A FNRP condenou o assassinato, responsabilizou o Estado e afirmou ser o crime mais um desrespeito ao acordo. Zelaya considerou o assassinato como “uma declaração de guerra à resistência”.
No país fora de situação de guerra mais violento do mundo, é fácil contabilizar crimes políticos como de delinquência comum. Em coletiva de imprensa, o presidente Porfírio Lobo afirmou que usará “toda a força do Estado” para descobrir o autor do crime, que fugiu logo após os disparos.
No dia que Zelaya voltou ao país, lá estava Emo o esperando com uma barba farta e uma tesoura na mão. Teve sua barba cortada por Mel (apelido pelo qual Zelaya ficou conhecido), na frente de milhares de pessoas, em rede nacional e internacional. Pouco se sabia sobre sua vida pessoal até o momento, nem mesmo seu verdadeiro nome e sua nacionalidade. Se era indiano ou não, o que se escuta nas ruas é que era muito mais hondurenho do que os executores do golpe Roberto Micheletti e Romeo Vasquez Velásquez.

Fonte: www.brasildefato.com.br
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