Encontro em Manágua foi um dos mais representativos, diz Valter Pomar

Por Geraldo Magela Ferreira (23/05/11)
A 17ª Reunião do Foro de São Paulo, que ocorreu entre os dias 18 a 20 de maio, em Manágua, contou com a participação de 640 delegados de 48 partidos membros de 21 países, além de 33 convidados de 29 partidos de 15 países na África, Ásia e Europa.
Durante o encontro, que teve também a participação do ex-presidente Lula, foram aprovadas diversas resoluções, além da Declaração Final. O documento é o resultado dos debates ocorridos nos três dias de trabalho e demonstra o posicionamento do Foro com relação à atual conjuntura internacional. A declaração condena o ataque da Otan à Líbia, exige libertação dos “Cinco Heróis” antiterroristas cubanos presos nos cárceres dos Estados Unidos e manifesta apoio ao retorno do presidente Manuel Zelaya a Honduras, entre outros temas importantes.
O secretário-executivo do Foro de São Paulo e dirigente nacional do PT, Valter Pomar, em entrevista ao Portal do PT, fez uma avaliação política da 17ª Reunião do FSP em Manágua e dos grandes debates em torno de temas importantes a respeito da atual conjuntura política no nosso continente e no mundo.
Leia a íntegra da entrevista:
1 – Qual a sua avaliação da 17ª Reunião do Foro de São Paulo que ocorreu em Manágua? Superou as expectativas dos participantes?
Valter Pomar – O XVII Encontro do Foro de São Paulo contou com a participação de 640 delegados de 48 partidos, de 21 países da América Latina. Além disso, tivemos 33 convidados de 29 outros partidos, vindos da África, Ásia e Europa. Deste ponto de vista, foi um dos mais representativos. A Frente Sandinista de Libertação Nacional, que foi a organização anfitriã desta edição do Foro de São Paulo, ficou muito satisfeita com o resultado, que certamente terá influência positiva na eleição presidencial nicaraguense.
2 – Como foi a participação do ex-presidente Lula no segundo dia de realização da reunião do Foro e qual foi a repercussão interna e externa do seu pronunciamento?
A presença de Lula foi muito festejada pelos participantes. Afinal, além de ex-presidente da República e dirigente do PT, ele é um dos fundadores do Foro. Publicamente, foi uma manifestação de apoio ao Foro de São Paulo e, com todos os cuidados diplomáticos que se deve adotar nestes casos, foi também um apoio de fato às candidaturas de Daniel Ortega e de Ollanta Humala, que esperamos saia vitorioso da eleição presidencial peruana, no próximo 5 de junho.
3 – Você havia declarado antes da reunião do Foro uma certa preocupação com relação aos perigos que rondam a esquerda na América Latina. Que perigos são esses? O Foro debateu o assunto com profundidade?´
Os grupos de discussão e as reuniões das três secretarias regionais (Cone Sul, Andino-Amazônica e Meso-america e Caribe) discutiram melhor este problema. Mas nas grandes plenárias tivemos demasiada retórica. Existem dois pontos principais a considerar. Primeiro: a situação internacional está muito complicada e muito perigosa. Estados Unidos e Europa, para tentar superar a crise internacional e o declínio de sua hegemonia, estão adotando a via da porrada. Ou seja: mais neoliberalismo, mais conservadorismo, mais guerra. O segundo ponto é o seguinte: na América Latina, há uma situação de equilíbrio muito instável. Para alguns, o copo está meio cheio, a nosso favor, afinal vencemos as eleições no Brasil, Uruguai, Equador etc. Para outros, o copo está meio vazio, a favor deles: afinal, a direita venceu as eleições no Chile, tivemos o golpe em Honduras etc. Na minha opinião pessoal, carecemos de uma análise mais fina do processo como um todo. Seja como for, exatamente porque vivemos um processo de equilíbrio instável, a eleição peruana joga um papel decisivo para decidir o curso geral dos acontecimentos.
4 – O documento aprovado pelo Foro nesta reunião demonstra uma grande preocupação com as ações cada vez mais agressivas do imperialismo mundial. Qual a posição do Foro com relação aos conflitos nos países árabes e a intervenção militar da OTAN na Líbia?
O Foro avalia positivamente as rebeliões populares, com destaque para o ocorrido no Egito e na Tunísia. O grande problema do Oriente Médio está na aliança entre ingerência externa e governos conservadores. O melhor exemplo disto era a relação existente entre EUA-Egito-Israel. A queda do governo Mubarak gerou uma nova situação, tanto interna quanto externa, favorecendo a aliança entre Hamas e Fatah, criando assim melhores condições para o povo palestino lutar por seus direitos. A partir desta avaliação no geral positiva, o Foro lembrou do outro lado da medalha: o imperialismo não assiste passivo à queda dos seus aliados. A ingerência da Otan no conflito líbio é o melhor exemplo disto. Independente do que cada partido pensa sobre o governo Gadafi –e sobre isto há grandes diferenças–, nenhum de nós acredita que a solução virá através de uma intervenção das potências.
5 – O presidente dos EUA, Barak Obama, em seu discurso na semana passada defendeu a criação de um Estado Palestino com base nas fronteiras anteriores à guerra de 1967 entre árabes e israelenses. Qual a proposta do Foro para a busca da paz naquela região do Oriente Médio?
Sobre isto, a posição do Foro coincide com a posição do Partido dos Trabalhadores: convivência entre os dois Estados, fim da ocupação, paz. Agora, quanto aos discursos de Obama, são de dois tipos: as vezes ele faz o discurso errado, as vezes é apenas discurso.
6- A Declaração Final da 17ª Reunião do Foro de São Paulo manifesta apoio às mudanças que estão sendo implementadas pelo governo de Daniel Ortega na Nicarágua. Qual a sua avaliação dessas medidas e qual o impacto delas no povo nicaragüense?
A Nicarágua tem uma história muito especial. Os sandinistas chegaram ao poder através da luta armada, em 1979. Perderam as eleições em 1990 e aceitaram o resultado. Passaram uma década e meia na oposição. Ganharam novamente as eleições e governam uma Nicarágua mais difícil, econômica e socialmente, do que ela era em 1979. É neste contexto que se deve analisar as políticas sociais do governo Ortega.
7 – Com relação a Honduras, inclusive no que se refere à situação do ex-presidente Manuel Zelaya, qual foi a posição tirada na reunião em Manágua?
A posição é: apoiar as negociações, que salvo alguma contratempo, permitirão que Zelaya volte ao país até o final deste mês. Trata-se, é bom dizer, de uma importante concessão, feita com o objetivo de buscar uma saída pacífica para o conflito hondurenho. A dúvida é saber se todos os golpistas vão fazer a sua parte ou se alguns setores vão tentar endurecer o jogo.
8 – E sobre o conflito interno na Colômbia envolvendo o governo e as Farc?
O Foro segue com a mesma posição: apoiar o Pólo Democrático Alternativo e defender uma saída pacífica negociada para o conflito armado. A novidade é que o atual governo colombiano está alterando sua retórica, abandonando a linguagem de Uribe. Devagarzinho, o atual presidente Santos está reconhecendo que não se trata nem de terrorismo, nem de crime organizado, mas sim de uma guerrilha. Esta mudança de retórica tem várias causas, entre elas a normalização nas relações com a Venezuela e a percepção, por parte de setores do grande capital colombiano, de que talvez seja melhor participar da integração sulamericana, do que ser o Israel da América Latina. Agora, existe um aspecto muito negativo na conjuntura colombiana, que é a tentativa de enfraquecer e dividir o Pólo Democrático.
9 – Por que a escolha da Venezuela para sediar a 18ª Reunião do Foro de São Paulo, que ocorrerá em julho do ano que vem? Qual a posição do presidente Hugo Chávez com relação ao Foro de São Paulo?
Esta é uma das duas melhores notícias deste XVII Encontro. Durante anos, o Partido Socialista Unido da Venezuela manteve uma postura muito tímida frente ao Foro de São Paulo. Este ano, a timidez acabou. Chavez mandou uma saudação, que foi lida pelo Nicolas Maduro. E o presidente do parlamento venezuelano participou e discursou duas vezes no Foro. Para aproveitar este momento, nada melhor do que fazer o próximo Encontro em Caracas. E para os venezuelanos, assim como foi para os nicaraguenses, acredito que a presença do Foro colabore na disputa presidencial de 2012.
10 – E qual foi a segunda melhor notícia?
O MAS da Bolívia solicitou e foi aceito como integrante do Grupo de Trabalho, que é uma espécie de direção do Foro de São Paulo. Aliás, a próxima reunião deste Grupo de Trabalho será no dia 4 de julho, também em Caracas, na véspera da cúpula da Comunidade de Estados latinoamericanos e caribenhos. Lá vamos divulgar um manifesto com as posições do Foro sobre a integração.
Fonte: Portal do PT